O recente anúncio do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre o desenvolvimento do CriptoJud, um sistema destinado ao bloqueio de criptomoedas de usuários brasileiros em corretoras, gerou preocupações crescentes sobre a privacidade financeira e o controle estatal sobre ativos digitais. A parceria firmada com a Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto) intensifica o debate sobre os limites do poder governamental na vigilância e interferência no patrimônio privado dos cidadãos.
De acordo com a Exame, o CriptoJud tem como objetivo facilitar a tramitação de ofícios entre o Judiciário e as corretoras, centralizando o bloqueio de criptoativos. No entanto, especialistas apontam que essa medida pode representar um avanço perigoso do Estado sobre a autonomia financeira dos indivíduos, uma vez que o sistema integrará várias exchanges e permitirá a rápida apreensão de criptomoedas com ordens judiciais. Embora o bloqueio de bens seja uma prática comum, a capacidade de congelar ativos digitais suscita temores sobre o grau de controle que o governo poderá exercer sobre o setor cripto.
A advogada Paula Lima Hyppolito, especialista em penal econômico, esclareceu que o bloqueio de criptomoedas já é legalmente possível em casos de crimes como fraudes ou lavagem de dinheiro. Contudo, a criação do CriptoJud preocupa quem defende a privacidade financeira. O sistema poderá ampliar significativamente o alcance do Estado sobre criptoativos, levantando questões sobre o uso dessas ferramentas para monitorar o patrimônio privado de cidadãos que não estejam envolvidos em atividades criminosas.
Outro ponto alarmante, segundo críticos, é o risco de o CriptoJud ser utilizado de forma abusiva. “Embora o sistema seja projetado para bloquear ativos em processos judiciais, há um temor legítimo de que o governo possa utilizar a ferramenta de forma mais ampla, em nome de cobranças tributárias ou controle de capital”, alertam defensores da privacidade financeira. O advogado Thiago Barbosa Wanderley afirmou à Exame que, apesar de ser uma evolução natural em termos de controle de bens digitais, a criação de um sistema desse porte gera preocupações sobre a possibilidade de uma vigilância financeira cada vez mais intrusiva.
Com o CriptoJud, o Brasil se posiciona na vanguarda da regulamentação do mercado cripto, mas o debate sobre até onde o Estado pode intervir nas finanças dos cidadãos ainda está longe de ser encerrado. A questão central gira em torno da balança entre a proteção contra crimes financeiros e o respeito à liberdade e privacidade dos investidores em criptomoedas.